quarta-feira, novembro 24, 2004

Sardinhas pescadas em mar de azeite

É verdade que o sol quando nasce é para todos, mas também é verdade que quando nada se faz, o que quer que se faça deve ser louvado e enaltecido. Convém, no entanto, alertar que a coerência é algo de muito importante e que deve assumir capital importância sempre que se pretenda estruturar acções.
No outro dia contei a um amigo não pexito que, pela primeira vez desde que me lembro, seria assinalado o "Dia do Mar" (16 de Novembro) na minha vila. Informei-o de que estaria patente uma exposição sobre o dito azul e que estava ainda prevista a realização dum colóquio, no Sábado subsequente ao dia em causa.
Todo este enredo, que porventura até poderia deixar-me envaidecid@, descambou em descontrolada gargalhada quando lhe contei os temas do colóquio: a sardinha e o azeite!
"o azeite?!" gritou-me de olhos esbugalhados, ao mesmo tempo que a gargalhada ia perdendo fulgor. Tentando justificar a organização, disse-lhe que, provavelmente, queriam dar a conhecer os benefícios da combinação de ambos os alimentos. Podiam até ter descoberto uma miraculosa pasta de azeite e sardinha que viesse resolver um dos grandes flagelos do concelho - a fome!!! (esta última parte já é um sonho divagante meu!) A argumentação não o convenceu e, admito-o, nem a mim própri@.

Como não podia deixar este assunto por resolver dentro da minha confusa cabeça, no dia do colóquio lá estava eu, pront@ a encontrar a cura! Enquanto se estava no "ram-ram" do "começa-não começa", fui espreitar a exposição. Gostei. Quer dizer... Desiludiu-me que tivesse pouca coisa sobre Sesimbra, mas sendo isso uma expectativa e não uma consequência, não me custa concluir que a mostra, no seu todo, tinha algum interesse.
Reparei que, logo à entrada, estava um painel de apresentação da exposição, da autoria da Câmara Municipal. Qual é o meu espanto quando ao ver o que lá estava escrito, senti que já tinha lido aquilo nalgum lado! E era verdade. O panfleto que publicitava a comemoração tinha um resumo do que lá estava, com a singularidade de estar, neste caso, assinado pelo nosso prezado Amadeu. Ou seja, a bem da coerência, o nosso presidente tinha copiado o texto do cartaz da exposição. (Não consegui deixar de imaginar o Amadeu a entrar de sorraia e pela caluda da noite no gabinete dos gráficos da câmara, armado de bloco de notas e caneta na orelha, para copiar as passagens mais interessantes.)

Passando ao colóquio propriamente dito, devo dizer que gostei muito da apresentação do Dr.Yorkos Stratoudakis sobre a sardinha. Foi enriquecedora a comunicação apresentada, não só porque se percebeu a utilidade que o IPIMAR pode e deve ter, bem como das dificuldades em obter resultados e do tempo necessário para desenvolver estudos complexos. A apresentação do Dr. José Gouveia foi igualmente enriquecedora, ou não fosse este professor do ISA, natural de Sesimbra, reconhecido como um, senão o maior, especialista em azeite do nosso país. Mas ao contrário do que ambicionava, não foi apresentada nenhuma solução milagrosa, nem tão pouco existe grande relação entre o mar e o azeite, para além de existir conserva de sardinha em azeite.
Assim, sobrou um interlocutor de renome a apresentar uma palestra numa ocasião que não era a sua. Espero que a Câmara (podia dizer antes a organização do colóquio, mas o Dr. Gouveia fez questão de afirmar que tinha sido essa entidade a endereçar o convite) tenha tido a dignidade de pedir desculpa a esse Sr. que à sua maneira e justamente pelo facto de ser bem sucedido profissionalmente, têm exaltado o nome da terra onde nasceu. Não vale a pena pedir desculpa ao público, uma vez que este, bem ao mal, teve uma oportunidade exemplar para aprender. E em terra onde pouco ou nada se faz...

2 comentários:

dalota disse...

Coisas da nossa terra. Como dizia o outro "Gente de Sesimbra, vê-se logo..."

Anónimo disse...

"E em terra onde pouco ou nada se faz..." ... critica-se o que se faz.